Mês: fevereiro 2024

Por isso confia em quem luta que a história não falha um dia venceremos

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Editorial RNA 26.02.2024

Assim expressa uma cantiga popular: “quem gosta de nós somos e aqueles que nos vem ajudar; por isso confia em quem luta, que a história não falha, nós vamos vencer”. Essa afirmação revela a persistência dos que têm consciência dos grandes desafios para quem vive na Amazônia e sabe que o poder do extrativismo destruidor é um monstro violento.

Os projetos de empresários e dos governantes, locais, estaduais e federal não revelam real compromisso com o respeito aos moradores tradicionais e originários da região. São submissos aos interesses do capitalismo predador. Basta verificar o exemplo da empresa canadense Belo Sum, que insiste em extrair 70 toneladas de outro próximo à hidroelétrica de Belo Monte, sendo esta uma imensa violência social e ambiental. A extração de ouro para a empresa canadense e os governantes regionais, é permitida porque gera royalties para alguns, apesar das consequências ao meio ambiente e ribeirinhos do Xingu.

Assim, projetos hoje existentes na Amazônia incluem tanto de exploração mineral, como de infraestrutura existentes ou em projeto. Podem ser enumerados alguns como, Ferrogrão, hidroelétrica Tabajara Rondônia, asfaltamento da rodovia Manaus Porto Velho, exploração de potássio em Autazes, Am, quatro Usinas hidroelétricas em Roraima, são alguns exemplos entre vários outros projetos, boa parte deles por empresas privadas ou em consórcio com os governos.

Enquanto isso “68% das terras indígenas e áreas naturais protegidas estão sob pressão de estradas, mineração, barragens, perfuração de petróleo, incêndios e desmatamento”, segundo informou relatório da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada, divulgado em 2019.

Tudo isso acontecendo e boa parte dos e das moradoras agredidas por tantos projetos destruidores, ficam indiferentes, ou de braços cruzados, se desculpando serem impotentes. Felizmente várias organizações indígenas e movimentos populares enfrentam em defesa da nossa mãe natureza.

O confronto entre destruidores da vida e resistentes lutadores sociais, se assemelha a Davi contra Golias da Bíblia.

Queimadas em Roraima tem várias causas umas criminosas

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Editorial Rádio Aparecida 28.02.2024

Alguém menos informado poderá ficar surpreso com o fato das queimadas em Roraima. Se estamos vivendo em pleno inverno amazônico, como alguns dizem, com chuvas quase diárias na região, como pode estar havendo tanto fogo em Roraima?

Pois é, esse fato tem várias explicações, uma delas é que de fato não existe uma Amazônia padronizada, como muitos podem pensar. São várias as Amazônias dentro do mesmo bioma. Uma Amazônia com diversos costumes, culturas variadas, sabores bem distintos, como o tarubá e piracuí do baixo Amazonas, o sanduiche caboquinho de Manaus, o linguajar típico do Acre, diferente do linguajar de Abaetetuba.  Já floresta, na Amazônia é também diversificada, desde a floresta densa, a mata em recuperação, até o lavrado Savana de Roraima, o que explica em parte o verão e as queimadas mencionadas naquela região.

Mas há outras causas para o fogo intenso acontecendo hoje na savana de Roraima, ao mesmo tempo em que chove em outras Amazônias. São várias invasões do território. Há os fazendeiros que queimam para refazer os pastos, levando o fogo se espalhar além da fazenda; há garimpos que causam grandes conflitos entre os povos indígenas do Estado, além de poluírem os rios com mercúrio e lama. Destroem mata ao redor e causam queimadas também.

Os conflitos de interesses, comuns em outras áreas da Amazônia, tem ainda a conivência dos governantes do Estado de Roraima, que apoiam a garimpagem e fecham os olhos para os incêndios que estão se alastrando na região.

Então, o que acontece hoje em Roraima é resultado dos conflitos de interesses entre o extrativismo destruidor, que exige total domínio sobre os bens da Amazônia fontes de seus lucros. De outro lado, estão os moradores tradicionais que sonham bem viver e são agredidos a todo momento, como os povos Macuxi, Wapixana, Yanomamis, que formam boa parte dos moradores de Roraima.

Ricos do agronegócio choram de barriga cheia

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Editorial Rádio Aparecida 21.02.2024

A seca do ano passado que chegou até início deste ano causou prejuízos para pescadores, caçadores, agricultura familiar e agronegócio também. A previsão é que vai faltar frutas, farinha, macaxeira e outros produtos.

O governo federal já antecipou a crise e liberou o plano safra 2023/2024. Para a produção familiar foram anunciados 71,5 bilhões de reais e para o agronegócio foi liberado quatro vezes mais, 360 bilhões de reais. Não se ouve grito dos produtores familiares que não sabem onde encontrar parte do plano safra para compensar os prejuízos da seca.

No Entanto, há uma semana atrás o presidente da Aprosoja, organização dos produtores de soja, abriu o choro reivindicando ajuda do governo federal. Segundo ele “que o governo tome uma providência rápida. Não adianta vir com medidas daqui a três meses, quatro meses”. O motivo do choro é que segundo ele, os produtores de soja estão ficando endividados e não terão como pagar os empréstimos feitos ao plano safra. Requer um adiamento de seis meses para os produtores endividados pagarem suas dívidas.

O que foi feito com os 363 bilhões de reais do plano safra para o agronegócio? O Banco destinou 272 bilhões de reais para custeio da colheita e comercialização, e mais 92 bilhões de reais para investimento.  Certamente foram comprados maquinários modernos, como mostra a propaganda do Agro é Pop, além de outros benefícios.

Como agora um líder do agronegócio apela a mais adiamento do pagamento das dívidas, se o governo tem sido tão generoso para com os criadores de gado e plantadores de soja e milho? Choram de barriga cheia, enquanto os produtores familiares nem sabem onde estão os 71 bilhões de reais destinados ao pano safra da agricultura familiar. Justamente são beneficiados os que mais prejudicam o meio ambiente na Amazônia e mesmo assim, fazem barulho para ter mais benefícios. Como dar-lhes razão?

Contradições de um governo de coalizão

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Notícia comentada para RED PAM 21.02.2024

Em 2023 foi perdida uma área de 5.152 km² de floresta amazônica, uma redução de 50% na comparação com os índices do ano 2022. Quem informa é o Instituto nacional de pesquisas espaciais, INPE do Brasil. Este é um sinal de que com a entrada de um novo governo democrático, se deu um basta na destruição da Amazônia. Mesmo assim, a destruição ainda continua, embora em menor escala.

Outra coisa que mudou com o novo governo foi a fiscalização e punição de tantos criminosos ambientais. O Ministério público Federal tem sido  rigoroso na busca de punição. Mais de 316 milhões de reais (65 milhões de dólares) terão que ser pagos pelos responsáveis por desmatamentos ilegais identificados pelo Ministério Público Federal na Amazônia, de 2017 para cá. Esse é o valor das indenizações impostas até agora pela Justiça Federal aos condenados nas ações civis públicas ajuizadas pelo MPF.

Com as multas arrecadadas o governo planeja ampliar o projeto de reflorestar a região. O plano prevê reflorestar 73 mil hectares de mata, equivalente a 68 mil campos de futebol. É uma corrida contra o que foi destruído na mãe natureza nos últimos 10 anos.

Então aparece a contradição que vive o governo brasileiro. Ao mesmo tempo que pune os criminosos destruidores de floresta, surge o novo programa de aceleração do crescimento econômico do país, que inclui, entre outras obras, duas grandes construções no meio da floresta Amazônica, altamente violentadoras do ambiente. Uma ferrovia cortando floresta entre Sinop no Mato Grosso e Miritituba no rio Tapajós. Invade territórios indígenas e atravessa um Parque nacional. Outra obra destruidora de floresta é o asfaltamento da rodovia ligando a capital Manaus a Porto Velho. Estas duas obras de 900 quilômetros cada uma, atenderão basicamente aos interesses do agronegócio e aos empresários da zona Franca de Manaus.

Só com forte resistência dos povos indígenas e movimentos sociais será possível enfrentar tais agressões à biodiversidade amazônica.

Quem confia em mim ainda que morra viverá

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Editorial RNA 15.02.2024

Jesus de Nazaré, filho de dona Maria e enteado de seu José, certa vez garantiu a seus seguidores: “quem confia em mim, ainda que morra, viverá”. Essa certeza está evidente na Amazônia. No último dia 12 deste mês, completaram 19 anos em que uma feira foi assassinada por seguir Jesus de Nazaré. Criminosos grileiros pagaram dois jovens para eliminar a freira de 74 anos, que lutava pelos direitos de simples posseiros terem direito a um pedaço de terra para plantar e viver no município de Anapu, Estado do Pará. Na manhã do dia 12 de fevereiro de 2005 tombava assassinada irmã Dorothy Stang, mas vive permanente na memória dos que lutam por vida e justiça e também na companhia de Jesus de Nazaré ali onde ele esteja.

Dorothy Stang não é a primeira e certamente não será a última a incomodar os vários tipos de assassinos invasores da Amazônia. A lista registrada pela Comissão Pastoral da Terra aponta que” entre 1985 e 2017, foram mortas no Brasil 1.898 pessoas por conflitos agrários, mártires do capitalismo, maior parte na Amazônia. Ainda em 2022 houve 47 registros de assassinatos no campo na região. Faltam registros do ano passado, que certamente ocorreram.

Isso acontece por vários motivos, dois deles sobressaem. De um lado o poder do agronegócio é muito grande no Brasil que tem a economia baseada no extrativismo e exportação de produtos primários, como são a soja, milho, carnes e minérios. Outro motivo é a subserviência dos poderes, Executivo, Congresso Nacional e Poder judiciário, este por demorar a punir os assassinos no campo.

Mesmo assim, ao recordarmos os 19 anos do martírio de Irmã Dorothy Stang, ela continua viva na memória dos pobres e estímulo para tantos que arriscam a vida ao defender os pobres e o meio ambiente na Amazônia. Vive e viverá!

Investir em estudantes é garantir o futuro da nação

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Editorial RNA 15.02.2024

O presidente Lula deixa a impressão de nos três anos que ainda tem de governo, não terá como vencer a ganância do poder econômico, especialmente o setor financeiro e o agronegócio, ambos têm seus capangas dentro do Congresso nacional. Por isso, Lula indica que fará o que é possível e necessário, mesmo que ao final de mandato seja considerado perdedor diante do poder perverso da ganância nacional.

Daí, já desde o primeiro ano de mandato ele vem aplicando recursos em benefício dos pobres: ampliou o valor do salário mínimo, garantiu isenção de imposto de renda para os mais pobres, garantiu recurso para o SUS, fortaleceu o programa bolsa família, tenta acudir o povo Ianomami ameaçado pelos garimpos ilegais, entre outros projetos que aliviam a desigualdade social tão escandalosa do Brasil.

Um recente decreto presidencial em 17de janeiro, criou o programa “pé de meia”, garantindo 2 mil, reais por ano para manter estudantes de baixa renda no ensino médio. Desde que mantenha frequência em sala de aula, cada mês entrará em sua conta bancária 200 reais. Além disso, o aluno que chegar a concluir o terceiro ano do ensino médio, receberá de prêmio mais 3 mil reais. Caso decida entrar na universidade via Exame nacional do ensino médio ENEM, receberá mais 200 reais, antes da prova.

O governo federal tomou tal decisão ao constatar que boa parte dos estudantes desistem de continuar o ensino médio, devido a situação financeira da família. Para o presidente Lula, ajudar financeiramente estudantes pobres a continuar os estudos não é despesa, mas investimento social.

Certamente que, ciente das grandes barreiras para diminuir a desigualdade social do Brasil, o governo Lula sabe que faz o que pode e certamente o futuro mostrará que ele tem razão em investir na juventude do país pela educação.

Não podeis servir a dois senhores, já diz o Evangelho

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Editorial RNA 11.02.2024

A Amazônia é rica em produção da floresta: castanha, copaíba, andiroba, açaí, cupuaçu, pau rosa entre outros produtos comerciais. Também a produção familiar é bem variável com mandioca, batata, pupunha, macaxeira, abóbora e frutas, como manga, laranja, abacaxi, maracujá, entre outros. Tudo isso pode ser comercializado, gerando renda aos produtores familiares.

*    Segundo informações técnicas, sete de cada dez trabalhadores do campo são da produção familiar, sendo que boa parte desses produtores/as vivem na Amazônia. Como explicar então, que o plano safra 2023/2024 do governo federal seja tão desproporcional no financiamento? Para o financiamento do agronegócio foram liberados 364, 22 bilhões de reais  e para a produção familiar apenas 77,7 bilhões, quarto vezes menos. O próprio governo federal justifica a desproporção. Assim falou o Ministro da economia Fernado Haddad: ““Esse é o maior Plano Safra da história do Brasil. Nós não queremos desenvolvimento a todo custo, nós queremos compatibilizar o crescimento da economia com outros valores tão importantes quanto o de hoje”. Não falou mas entende-se que crescimento da economia do país com exportação são os outros valores.

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*    Já o ministro da Agricultura Fávaro deu ênfase à necessidade de ampliar os recursos para o agronegócio. Afirmou o seguinte: “Apesar dos desafios enfrentados pelo setor agropecuário, não se trata de uma crise, mas do diálogo crescente entre o governo e os representantes do agronegócio, sublinhando a importância de uma abordagem colaborativa e proativa para enfrentar os desafios presentes e futuros.

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*    Isto significa que para o governo federal a grande a produção agropecuária é muito mais importante do que a produção familiar. Afinal, “Em sua versão comum, o Plano Safra atende produtores rurais com grandes propriedades, que operam em escalas maiores de produção e que, portanto, têm maiores necessidades de financiamento. Além disso, esses produtores geralmente têm mais acesso a formas de garantia para os empréstimos.

*    Como explicar tal absurdo de submissão do governo democrático aos exportadores de grãos e carnes ao estrangeiro, quando 33 milhões de brasileiros passam fome? Uma razão é que o poder executivo é submisso ao poder do poder legislativo, onde estão ao mandantes do agronegócio nacional.

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Crédito de carbono proposta cínica do capital para controlar desafio ambiental

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Notícia comentada para RED PAN 31.01.2024

O planeta está dando seu grito por socorro; a Amazônia dá sinais de que em mais dez anos deixará de ser floresta para se tornar savana; os sinais visíveis estão expostos: calor intenso, seca geral nos rios, mortandade de peixes e espécies aquáticas. No entanto o agronegócio e a mineração continuam de vento em popa, como diz o ditado amazônico.

Quem vai freiar a chegada do apocalipse? Os governantes? Os empresários? Todos estão aprisionados pelos compromissos econômicos, seus e dos patrões. Como os cientistas já comprovaram que faltam poucos segundos para o estouro da catástrofe planetária, chefes de governos tem se reunido nas conferências do clima, como as Cop 27 na Escócia, cop 28 nos países árabes e a próxima na Amazônia em 2025. Em todas os líderes manifestam preocupações com as mudanças climáticas, falam em salvar o planeta, mas ao voltar para casa, continuam alimentando geração de carbono a prejudicar o clima e gerando mais catástrofes em mais países, sem distinção.

Então tem surgido uma tentativa de solução, negociar a diminuição de gás carbono para purificar o planeta e aliviar o clima. Inventaram o chamado crédito de carbono. Isto é, empresa geradora de gás carbono, negocia com quem tem área de floresta. Três desses negócios de crédito de carbono estão em andamento hoje na Amazônia, município de Portel, todos com problemas de negociação.

Enquanto uma empresa continua poluindo a atmosfera com máquinas e fábricas, posseiros deixam de fazer roças e cuidam da floresta em pé recebendo pequenos créditos.

Esta é uma solução cínica e sem resultado, tanto é, que as mudanças climáticas continuam aceleradas. Entre os geradores de poluição e os moradores de floresta surgem os mercadores que ganham dinheiro dos poluidores e pagam pequena parte aos conservadores de floresta.

Quem não se ilude com o tal crédito de carbono é o planeta que está a ponto de explodir no apocalipse.

Ser indígena no Brasil ainda é desafio

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Editorial Rádio Aparecida 31.01.2024

Eis uma grande questão a ser compreendida, quais os principais desafios dos povos indígenas no Brasil. São muitos, uns dentro dos territórios e outros de fora para dentro.

Mesmo que nos últimos 60 anos tenha evoluído a força coletiva dos povos originários, surgindo várias organizações, como APIB, COIAB, CITA entre outras, que fortalecem o enfrentamento diante dos invasores de seus territórios; mesmo assim divisões internas surgem pela ambição de alguns caciques pela venda de ouro. Aí que entram os garimpeiros. Estes, além de invadir e destruir rios e floresta, seduzem alguns líderes indígenas oferecendo pequena parte de outro pela entrada em suas terras.

Os invasores de territórios indígenas são extrativistas predadores que se julgam no direito de explorar as riquezas que estão nas terras indígenas. Daí, já não podendo matar indígenas em grande quantidade como foi na ditadura militar que quase exterminou o povo Atroari no Amazonas, mas controlam a invasão através de políticos capangas no Congresso nacional que trabalham para manipular as leis a serviço da invasão dos territórios indígenas. Um exemplo é o tal marco temporal, já provado como inconstitucional pelo STF, os políticos insistem e criar novo marco temporal.

Nos últimos 25 anos cresceu o número de pessoas indígenas de 850 mil para hoje um milhão e 560 mil membros de povos originários, isso se deve à persistência de líderes indígenas que compreenderam que só lutando e enfrentando poderão preservar seus direitos. Só a consciência coletiva é que conseguirá salvar os povos donos da terra Pindorama. Certamente que a solidariedade de organizações e políticos comprometidos com os direitos humanos é de muita importância para a continuidade das vidas dos legítimos donos das terras brasileiras.